Muito tempo atrás escrevi um artigo também focado em proteção de crianças e adolescentes. Na época, falei sobre algumas das formas utilizadas por cibercriminosos para chegar a este público. Já neste artigo farei diferente, listarei as ameaças que mais frequentemente são direcionadas a pessoas com menos idade, alguns dos meios que podem permitir que as ameaças aconteçam e, claro, possibilidades de proteção.

Tenho convicção que um dos melhores caminhos para a prevenção contra ameaças seja a conscientização. Idealmente todas as crianças e adolescentes deveriam ser instruídos a ponto de conseguirem identificar sozinhos ameaças em potencial, mas, além de ser uma tarefa complexa por si só, o tema não costuma ser o mais popular entre este público. Com tudo isso em mente, produzi este artigo com foco principal em instruir pais e responsáveis sobre os temas nele listados e, após entender os pontos aqui abordados, levar este tema até a atenção deles para que se mantenham a salvo destas ameaças.

Criação de conteúdo sensual ou sexual

Acredito que o pior dentre todos os riscos seja o de expor a intimidade de crianças e adolescentes e por isso abordarei este tema em primeiro lugar. Infelizmente este é um ponto cada vez mais presente devido a popularização das selfies e pode trazer exposições que muitas vezes não nos damos conta - não só na visão dos menores, mas também na dos pais e responsáveis. As formas mais conhecidas desta ameaça envolvem a criação de conteúdo sexual explícito, mas certamente não se limita a isso. Muitos criminosos buscam perfis de crianças e adolescentes que não possuam restrições de privacidade para baixar todas as fotos e vídeos e comercializá-los/trocá-los em fóruns na deep/dark web ou para transmití-los em diversos grupos privados presentes em aplicativos de troca de mensagem.

Sextorsão

Outro ponto de atenção é a extorsão sexual, geralmente ameaças deste tipo ocorrem quando cibercriminosos já estão em posse de conteúdos sensuais ou sexuais de suas vítimas, tornando a extorsão ainda mais convincente. Como o nome sugere, a vítima é compelida a realizar ações que beneficiem os criminosos e, mesmo existindo diversas possibilidades para estas ações, os criminosos costumam exigir que suas vítimas produzam mais conteúdo sensual, sexual ou pornográfico ou que lhes beneficiem financeiramente com transferências bancárias ou realizando quaisquer tipos de pagamentos.

Este tipo de crime costuma impactar significativamente o psicológico de crianças e adolescentes, por isso escrevi um guia de prevenção dedicado a este tema. Caso esteja passando por esta situação ou conheça alguém que está espero que o guia possa auxiliar.

Cyberbullying

Dentre os crimes digitais citados neste artigo, o cyberbullying é o que detém mais chances de possuir transgressores e vítimas na mesma faixa etária. O Cyberbullying nada mais é do que a prática do Bullying realizada em ambientes virtuais, e estes ambientes podem ser os mais variados passando por chat em jogos, e-mail, aplicativos de troca de mensagens e redes sociais. O que configura o crime é o ato de humilhar, assediar ou difamar a vítima, normalmente assediando-a de forma recorrente e eventualmente causando danos psicológicos.

Engenharia social

Nesta modalidade de crime os infratores costumam ser pessoas mais ligadas a crimes digitais, visto que as técnicas de engenharia social têm por finalidade obter dados como documentos, endereços, dados bancários da própria vítima ou de seus responsáveis e eventuais outras informações que permitam que os criminosos pratiquem outros tipos de delitos.

Os criminosos costumam abordar suas vítimas por e-mail ou aplicativo de troca de mensagens, sempre com mensagens cujo conteúdo denote urgência e com procedimentos a serem seguidos e não necessariamente essas abordagens são vinculadas a arquivos maliciosos.

Todos estes aspectos negativos das interações digitais devem ser olhados com cautela, alguns mais do que outros por serem mais nocivos, mas vale ressaltar que mesmo se tratando de crimes digitais tudo o que foi supracitado não passam de formas específicas de interação entre pessoas. Em outras palavras isso quer dizer que não existe, por exemplo, uma solução de segurança que impeça que estes crimes aconteçam, nem que existam ambientes totalmente livres da possibilidade de que eles sejam praticados.

Ainda assim é possível adotar comportamentos mais seguros para evitar ao máximo que crianças e adolescentes sejam vítimas destes males.

  • Abra sempre a possibilidade de diálogo: muitas vezes estas ameaças mexem profundamente com crianças e adolescentes e ter um pai, mãe ou responsável com quem eles possam contar certamente faz toda a diferença no enfrentamento do problema. Manter a possibilidade de diálogo sincero e objetivo sobre quaisquer temas tende a fazer com que eles se sintam confortáveis para abordar também assuntos mais delicados como a coação ou o bullying. Cabe às partes responsáveis instruir e conscientizar os menores de idade sobre os riscos que os ambientes digitais podem conter e buscar meios de inibir que possíveis crimes continuem ocorrendo
  • Proteja redes sociais e aplicativos de troca de mensagens: muitos criminosos se aproveitam de configurações pouco restritivas para ter acesso a fotos de perfil, status e postagens em redes sociais e apps de troca de mensagem para coletar materiais que serão vendidos ou trocados em fóruns pela deep/dark web. Mesmo conteúdos não sexuais, como fotos na praia ou na piscina também podem ser alvo deste tipo de criminosos. Para evitar que isso aconteça configure a privacidade para permitir que somente amigos ou contatos previamente adicionados tenham acesso a este tipo de conteúdo.
  • Não permaneça em ambientes tóxicos: essa recomendação de segurança é mais fácil de ser seguida quando o ambiente tóxico não é de convívio frequente como é o caso de fóruns e jogos. Se existem problemas acontecendo em grupos familiares, escolares ou até de condomínio essa recomendação ganha outra complexidade. Ainda assim é possível conversar com os administradores destes meios para auxiliarem na inibição dos comportamentos indesejados.
  • Tenha softwares de proteção nos dispositivos: mesmo não sendo o foco das ameaças citadas neste artigo é impossível negar que os meios digitais estão repletos de ameaças e, para impedir uma infecção, é interessante contar com uma solução de proteção instalada em todos os dispositivos. Isso evitará que os malwares sejam executados caso venham a ter contato com o equipamento.
  • Denuncie: lembre-se sempre que independentemente ao fato de correrem em meios digitais todos os pontos citados neste artigo são considerados crimes, e podem e devem ser tratados como tal. Caso seja uma vítima direta deles ou conheça alguém que esteja sofrendo com isso procure os canais adequados de denúncia como delegacias focadas em crimes digitais e sites especializados no assunto como o Safernet.

Espero que este artigo atue mais como uma ferramenta de conscientização do que de remediação, mas, caso seja a segunda opção, saiba que infelizmente muitas pessoas já passaram por isso e você poderá encontrar diversas dicas e informações adequadas pertinentes a cada um deles em fontes confiáveis na internet, e que este o que citei também possa trazer algum direcionamento para atravessar este momento delicado.