O bullying de qualquer tipo pode ter um impacto devastador no bem-estar e na vida da vítima. O bullying físico, cara a cara ou presencial, ainda é um problema nas escolas, e vários pesquisadores afirmam que suas consequências a longo prazo podem ser ainda piores do que os impactos imediatos, a ponto de poderem levar a mudanças no comportamento e na personalidade da vítima.

Com o advento da internet, o bullying - assim como a comunicação em geral - também aprimorou suas capacidades. Nos dias de hoje, ele pode ser praticado no conforto do próprio lar, e a vítima pode nem mesmo conhecer o agressor. No entanto, embora os métodos e meios possam mudar, o resultado é tão grave quanto - na verdade, muitas vezes é ainda pior do que no bullying presencial.

Hoje é o dia internacional de conscientização sobre o cyberbullying - Stop Cyberbullying Day - e iremos abordar as várias formas de cyberbullying, os efeitos reais do abuso e assédio on-line sobre as vítimas, e por que os pais e responsáveis precisam garantir que seus filhos evitem se tornar vítimas, além de ajudar a promover uma cultura de respeito na internet.

O que é cyberbullying?

De acordo com o dicionário Merriam-Webster, o cyberbullying significa "a publicação eletrônica de mensagens maldosas sobre uma pessoa (como um estudante), frequentemente feita de forma anônima". No entanto, o cyberbullying pode assumir muitas outras formas e, como tal, envolve o uso de tecnologia moderna para assediar, maltratar e perseguir outra pessoa.

As vítimas recebem mensagens, textos, posts ou comentários com palavras ofensivas em seus telefones, redes sociais ou computadores, que as envergonham e as fazem sentir mal. Esse abuso pode ocorrer praticamente o tempo todo, com a vítima encontrando pouco alívio do comportamento violento e odioso de seu agressor.

Resumidamente, o cyberbullying abrange qualquer tipo de conteúdo on-line utilizado para prejudicar alguém. Além disso, a forma de intimidação e seu foco podem variar, visando a orientação sexual, aparência, idade, raça, etnia, religião e outros aspectos. Em muitos países, o cyberbullying é considerado um crime e os responsáveis podem enfrentar vários anos de prisão.

Consequências do cyberbullying

O bullying on-line pode ser muito prejudicial, especialmente porque frequentemente é anônimo e pode ter um impacto amplo, já que as mensagens ofensivas postadas na internet podem ser lidas por qualquer pessoa. O cyberbullying pode fazer com que a pessoa sinta que não há escapatória, pois sua casa e privacidade podem parecer violadas.

Isso tem um efeito tremendo na psique da vítima, pois o estresse e o estado emocional geral podem afetar os padrões de sono, o humor e os hábitos alimentares, além de levar à ansiedade e à depressão, que por si só podem ter consequências indesejadas. E considerando que as crianças são geralmente alvos de cyberbullying, a preocupação das pessoas ganha uma maior justificativa.

Progresso para todos e tudo - incluindo o bullying

Os espaços para o cyberbullying evoluíram ao longo dos anos e, à medida que o ritmo das inovações tecnológicas se acelera, surgem diferentes e variados espaços para o assédio digital.

Podemos considerar as ligações telefônicas ou mensagens de texto ofensivas como os primeiros casos de proto-cyberbullying, que evoluíram para algo semelhante por meio de plataformas de mensagens on-line. O primeiro caso real de cyberbullying que chamou a atenção ocorreu em 2007 nos Estados Unidos, quando Megan Meier, uma adolescente de 13 anos, cometeu suicídio após seus vizinhos criarem um perfil falso no Myspace para assediá-la.

E isso foi um sinal do que estava por vir, pois pouco depois surgiram os smartphones e uma infinidade de novas redes sociais e serviços de mensagens, criando mais ambientes para esses atos de ódio. Em 2010, Hope Sitwell, outra adolescente de 13 anos, tirou sua própria vida porque seu namorado compartilhou sua foto nua com estudantes de seis escolas secundárias da Flórida. Na era da internet, dizem que a privacidade é um luxo.

Devido à prevalência de pessoas em sites de redes sociais como Instagram, Snapchat, Discord, Reddit, Twitter e Facebook, cada vez estamos mais expostos à ameaça do cyberbullying. E assim como passamos de mensagens em celulares para mensagens on-line, as formas de bullying também mudaram, com o uso de fotos e vídeos para ameaçar as pessoas, erodindo cada vez mais a privacidade e os espaços pessoais seguros.

Tyler Clementi, um jovem de 18 anos de Nova Jersey, cometeu suicídio depois que seu colega de quarto usou uma webcam para filmá-lo beijando outro homem, e o colega de quarto incentivou outros colegas e pessoas no Twitter a assistirem à transmissão ao vivo da webcam.

E infelizmente, a lista continua. De fato, um estudo de 2018 descobriu que jovens vítimas de cyberbullying têm duas vezes mais chances de tentar suicídio ou se autoflagelar do que seus colegas que não foram vítimas.

Qualquer pessoa pode ser uma vítima - e pode assumir várias formas

Lembra quando as pessoas ficavam assustadas com estranhos espiando em suas casas/quartos em filmes? Os chamados "voyeurs" ainda existem, mas também existem outras formas de perseguição ou espionagem. O stalking digital aumentou nos últimos anos, graças às redes sociais e aos hábitos constantes de postagem das pessoas e ao compartilhamento profuso de detalhes de suas vidas.

De acordo com um estudo de 2013, até 80% dos adolescentes que usam redes sociais compartilham informações como sua localização, imagens e informações de contato on-line. A menos que tenham um perfil privado e conheçam todas as suas conexões, as crianças podem ser facilmente rastreadas por qualquer pessoa na internet.

Leia mais: Riscos digitais relacionados à crianças e adolescentes

Você está feliz com seus destaques de final de ano no Spotify, Steam e talvez no PlayStation, então os posta em um servidor do Discord com seu nome de usuário na imagem? Se um cibercriminoso vir isso, ele podem começar a enviar mensagens ameaçadoras ou de assédio, ou até mesmo tentar roubar sua conta. O doxing é comum na internet e pode ter consequências duradouras para sua saúde mental e privacidade.

Flaming é outro método de bullying on-line, onde trolls (provocadores) deliberadamente argumentam de forma agressiva com o objetivo de ferir a outra pessoa. No Reddit, por exemplo, essas pessoas às vezes examinam todo o histórico de posts de um usuário e tentam desvalorizar seus pontos, diminuindo-os ou atacando-os pelo que eles postam em subreddits específicos.

Sexting (enviar conteúdo de natureza sexual) é outra forma, com consequências perigosas para ambos os lados, pois pode ser usado como chantagem ou evoluir para uso de imagens sexuais infantis.

Por último, os ataques de ódio são outra forma de cyberbullying que às vezes é difícil de rastrear, pois bots podem cometê-los. Essas são situações em que vários usuários entram em um servidor do Discord ou seguem um streamer no Twitch, por exemplo, e então inundam o chat com mensagens de ódio, impedindo que o streamer ou os usuários tenham discussões normais.

Sem tolerância na escola ou na internet

Como demonstrado pelo desenvolvimento de leis direcionadas ao assédio e bullying on-line, existe, e sempre deve existir, uma tolerância zero para esse tipo de comportamento.

O que pode ser feito? Os pais devem ser mais solidários e compreensivos, e tentar conversar mais com seus filhos se perceberem qualquer sinal de desconforto ou mudanças em seu comportamento. Em seguida, devem procurar reunir o máximo de evidências possível e relatar quaisquer incidentes de cyberbullying aos administradores das plataformas, aos diretores da escola (se necessário) e à polícia. Além disso, considere procurar ajuda médica profissional para pessoas afetadas pelo cyberbullying, pois pode ter efeitos mentais duradouros.

Para obter mais informações sobre os perigos on-line enfrentados pelas crianças, bem como sobre como a tecnologia pode ajudar, acesse o blog DigiPais.

Leia mais: