A Inteligência Artificial chegou para revolucionar tudo, e a cibersegurança não é uma exceção. Embora isso possa representar desafios para a área, também oferece uma oportunidade para os profissionais do setor.
Atualmente, existe uma lacuna no mercado de trabalho de cibersegurança de quase 5 milhões de profissionais. De acordo com um estudo realizado pela ISC2, 54% dos entrevistados observaram um aumento substancial nas ciberameaças até o final de 2024 e, desse grupo, 13% atribuiu esse crescimento às ameaças geradas pela própria IA.

Por outro lado, a Inteligência Artificial também é considerada uma tecnologia muito valiosa por sua contribuição para tarefas relacionadas à segurança da informação.
82% das pessoas que participaram do estudo concordam que a IA melhorará a eficiência do trabalho dos profissionais de cibersegurança.

A seguir, apresentamos uma análise para dimensionar o impacto da Inteligência Artificial nos profissionais da área, como ela pode ser um fator chave no desenvolvimento de ameaças e qual é a influência das habilidades em IA nos perfis de profissionais de cibersegurança para atender às crescentes demandas do mercado de trabalho atual.

O risco: o uso da IA para fins criminosos

Um dos aspectos que merece atenção é a utilização da Inteligência Artificial para criar novas ameaças ou potencializar as já existentes.

Diversas vezes, compartilhamos no WeLiveSecurity casos em que o uso malicioso da Inteligência Artificial por cibercriminosos desempenha um papel fundamental. Desde a forma como o ChatGPT pode ser utilizado para otimizar ataques de phishing até a criação de imagens e vídeos falsos para práticas de sextorsão.

Entre as principais preocupações dos profissionais de cibersegurança, apontadas no estudo da ISC2, estão os deepfakes (76%), as campanhas de desinformação (70%) e a engenharia social (64%). Além disso, 75% dos entrevistados manifestaram preocupação com o uso da Inteligência Artificial como meio para lançar ciberataques e outros atos criminosos.

A realidade acaba por confirmar essa percepção. A Inteligência Artificial está facilitando fraudes de identidade por meio da criação de vídeos e áudios falsos, capazes até mesmo de enganar pessoas próximas à vítima.

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A oportunidade: a IA como aliada da cibersegurança

Esse cenário levanta uma grande questão: estamos preparados para um contexto em que as ameaças cibernéticas estão em crescimento e em que a Inteligência Artificial pode ser usada a favor do cibercrime? Atualmente, 67% das empresas reconhecem a escassez de profissionais na área. Em números concretos, isso representa uma lacuna de 4.763.963 vagas não preenchidas.

A primeira conclusão, portanto, é que a cibersegurança é um campo fértil, repleto de oportunidades para ingressar no mercado de trabalho e construir uma carreira sólida.
Essa perspectiva é confirmada também pela análise do Fórum Econômico Mundial, que coloca o cargo de Analista de Segurança da Informação entre as 10 profissões com maior projeção até 2027.

Diante disso, a Inteligência Artificial pode ser a grande resposta para essa demanda não atendida? A resposta é não, pois é pouco provável que a IA consiga avanços significativos para reduzir a atual lacuna entre oferta e demanda.

No entanto, ela pode ser fundamental para permitir que os profissionais da área se concentrem em tarefas mais complexas e de maior valor. Ainda assim, qualquer contribuição da IA será inútil sem o critério humano para supervisioná-la, razão pela qual é equivocado pensar que a Inteligência Artificial eliminará postos de trabalho, na verdade, o efeito tende a ser o oposto.

Além disso, espera-se que, em um futuro próximo, 75% das empresas adotem a Inteligência Artificial, o que apenas reforça a crescente demanda por especialistas em segurança. De fato, o Bureau of Labor Statistics dos Estados Unidos projeta um crescimento de 32% nos empregos na área de cibersegurança entre 2022 e 2032 – uma porcentagem significativamente superior aos 3% previstos para os demais setores. Mas, claro, para aproveitar essas oportunidades, será fundamental estar capacitado.

O novo perfil

Diante do aproveitamento das ferramentas de IA pelo cibercrime e da crescente demanda por perfis especializados, é praticamente obrigatório que aqueles que desejam desenvolver sua carreira no campo da cibersegurança atualizem suas habilidades para atender às novas exigências do mercado. É nesse contexto que surgem as novas competências ligadas à Inteligência Artificial.

Para dimensionar o impacto que a IA já está causando nos perfis profissionais de cibersegurança, nada melhor do que a opinião da própria força de trabalho: 88% dos profissionais já percebem essa mudança em seus papéis atuais. Mais do que isso, 82% acreditam que a IA aumentará sua eficiência no trabalho, enquanto mais da metade (56%) sente que algumas partes de suas funções podem se tornar obsoletas.

Levando para as tarefas do dia a dia, esses são alguns dos benefícios que a IA pode oferecer ao campo da cibersegurança:

  • Melhora na análise de ameaças em tempo real;
  • Redução de erros de configuração;
  • Automação de respostas;
  • Facilidade na análise de malware;
  • Aumento da produtividade nos Centros de Operações de Segurança.

O principal eixo dessa mudança é que os profissionais de cibersegurança poderão utilizar a IA para aquelas ações que exigem muito tempo e têm menor valor (automatizar tarefas repetitivas), como na implementação de novas ferramentas de detecção. A partir disso, surge a necessidade de adquirir novas habilidades e competências, muito menos técnicas, como o pensamento crítico, a adaptação e a ética digital.

Leia mais: 12 GPTs indispensáveis para estudantes e profissionais de cibersegurança

As novas habilidades

E como se atualizar para esse novo panorama profissional? Atualmente, existem diversos cursos on-line gratuitos enfocados na Inteligência Artificial aplicada à cibersegurança: desde os que oferecem conteúdos mais introdutórios até os que exigem um certo nível de experiência para inscrição.

Nesses cursos, entram em jogo certas habilidades que não são tão técnicas, mas que são fundamentais para se adaptar a um cenário em constante evolução, como:

  • Pensamento crítico: questionar as decisões da IA, validando fontes e interpretando seus resultados.
  • Curiosidade e aprendizado: dado que a IA evolui constantemente, é necessário se atualizar com as últimas tendências.
  • Ética: conhecer os limites de quando e como usar a IA sem comprometer a privacidade.

Sim, o futuro da cibersegurança estará muito ligado à aplicação da Inteligência Artificial, com o desenvolvimento de habilidades mais soft e não tão técnicas.

Isso é confirmado pelo ISC2, que aponta, por um lado, que a Inteligência Artificial será uma das principais habilidades exigidas para ocupar cargos relacionados à cibersegurança. Por outro lado, habilidades como a resolução de problemas e a comunicação são consideradas "mais importantes do que habilidades técnicas, como segurança em nuvem ou análise de riscos".

Portanto, a orientação é procurar as melhores ferramentas e conteúdos que se adaptem aos seus interesses. Certamente, a oferta de cursos disponíveis continuará crescendo, com opções para todos os gostos. Adquirir essas habilidades poderá fazer a diferença para ter um desenvolvimento promissor em um dos empregos do futuro.