Quando alguém próximo é atacado, o risco pode estar mais perto do que você imagina. Receber a notícia de que um amigo, parente ou colega teve uma conta on-line invadida costuma provocar uma mistura de sentimentos. Primeiro vem a preocupação com a pessoa afetada - é natural. Mas logo depois, uma pergunta importante também deveria surgir: Será que eu estou em risco? A resposta é: sim, você pode estar.

Como assim? No mundo digital interconectado em que vivemos, incidentes de segurança digital raramente ficam restritos a um único alvo. O "raio de alcance" de um ataque pode se expandir e atingir outras pessoas na rede de contatos da vítima. Reconhecer esse risco é essencial para quem quer fortalecer sua consciência e proteção digital.

Amigo ou inimigo?

Talvez você já tenha recebido uma mensagem que parecia vir de um amigo próximo, mas que soava estranha. Pode ter sido um pedido de dinheiro inesperado, um link com algo como "veja quem morreu" ou simplesmente uma conversa fora do normal. Em muitos casos, essas situações têm algo em comum: provavelmente é um golpe. Alguém está se passando por outra pessoa, o que é ainda mais comum após o roubo de uma conta.

Os cibercriminosos sabem muito bem que mensagens vindas de contatos confiáveis tendem a passar facilmente pelo nosso filtro de desconfiança. Eles exploram não só falhas técnicas, mas principalmente aquilo que nos torna humanos: a confiança que depositamos em nossos relacionamentos pessoais.

Em outras palavras, um cibercriminoso que consegue assumir o controle da conta de WhatsApp, e-mail ou perfil em rede social de alguém ganha uma arma poderosa: o acesso à confiança já estabelecida com os contatos da vítima. A partir daí, ele pode se passar pela pessoa e enganar amigos, familiares ou colegas com muito mais facilidade. Com essa vantagem, o cibercriminoso pode levar outras pessoas a acessar sites falsos, cair em golpes variados, instalar malwares que roubam informações ou até propagar spam pelas redes sociais - tudo sob o disfarce de alguém conhecido.

Ainda mais perigosos são os ataques altamente personalizados. Os golpistas nem sempre se limitam a disparar mensagens genéricas para toda a lista de contatos. Ao invadir uma conta, eles podem acessar um verdadeiro arquivo de conversas privadas e históricos compartilhados. Esse baú de informações pessoais pode ser usado como arma para criar golpes sob medida, que mencionam detalhes específicos da vida das vítimas, informações que só alguém próximo saberia.

E tem mais: pense nos riscos dos acessos compartilhados. Você já dividiu com alguém o login de serviços de streaming ou de outras plataformas on-line? E se as mesmas credenciais (ou semelhantes) forem usadas em outras contas? Considerando o hábito comum de reutilizar senhas, os cibercriminosos vêm há anos explorando essas falhas com ataques de credential stuffing, usando combinações de e-mail e senha vazadas para invadir outros serviços e ampliar o alcance do golpe.

A segurança digital é construída em camadas

O que fazer ao descobrir que alguém próximo teve uma conta comprometida? O primeiro passo é tentar entrar em contato com essa pessoa por outros meios confiáveis - ela pode nem estar ciente do que aconteceu. Basta uma ligação ou uma mensagem por outra plataforma, fora daquela que foi invadida.

Depois disso, revise as configurações de segurança das suas contas mais importantes. Use senhas fortes, únicas e, de preferência, frases-senha geradas aleatoriamente por um gerenciador confiável. Assim, cada conta terá uma combinação exclusiva e mais difícil de ser explorada por criminosos.

A autenticação em dois fatores também é uma linha de defesa inegociável. Mesmo que sua senha seja comprometida, essa camada extra de segurança pode impedir acessos não autorizados, especialmente se você usar uma chave física de segurança ou um aplicativo autenticador confiável.

Você se conectou recentemente a alguma conta on-line usando o dispositivo do seu amigo? Se sim, é hora de agir: revogue permissões concedidas a contas, dispositivos ou redes associadas a ele, altere suas senhas, revise as atividades recentes da sua conta e fique de olho em qualquer comportamento suspeito.

Também vale a pena refletir sobre seus próprios hábitos digitais e ficar atento à sua pegada on-line. Pense na quantidade de informações pessoais que você compartilha, especialmente nas redes sociais. Muitos cibercriminosos não dependem apenas de logins roubados, mas também de dados públicos extraídos de perfis para criar mensagens de phishing extremamente convincentes. Se você começar a receber e-mails suspeitos ou notar comportamentos estranhos relacionados à conta de um amigo, isso pode ser um sinal de alerta: é hora de revisar suas configurações de privacidade e reforçar seus cuidados com a segurança digital.

Desconfie de mensagens urgentes, mesmo quando mencionarem dados pessoais. Os ataques estão cada vez mais sofisticados, com o uso de ferramentas de inteligência artificial capazes de imitar vozes, imagens e até vídeos, tornando tudo muito convincente.

Entender como funciona o ecossistema do cibercrime também é importante. É na dark web que credenciais roubadas e kits de malware são comprados e vendidos, facilitando a atuação de criminosos em golpes de falsidade ideológica e outras invasões. Considere usar um serviço de monitoramento da dark web para ser alertado caso suas informações pessoais vazem nesse submundo da internet, assim você pode agir rapidamente e se proteger antes que o prejuízo seja maior.

Instalar um software de segurança confiável em todos os seus dispositivos é, sem dúvida, uma das formas mais eficazes de se proteger contra os diversos tipos de ameaças on-line.

Consciência coletiva e segurança

Por fim, é bem provável que seu amigo ou parente precise de ajuda para reconstruir sua vida digital. Embora sua prioridade seja proteger a si mesmo, oferecer apoio prático depois de garantir sua própria segurança pode fazer toda a diferença. Afinal, todos nós temos um papel na construção de um ambiente digital mais seguro.