O risco de se tornar uma vítima do cibercrime está realmente crescendo? De acordo com as pesquisas que observei, a maioria das pessoas nos Estados Unidos e na Europa acreditam nisso. No início deste ano, a União Europeia publicou os resultados de sua mais recente pesquisa sobre segurança na Internet, na qual 87% dos usuários concordaram que os riscos de se tornar uma vítima do cibercrime estão crescendo (os links relacionados com a pesquisa EBS480: “Special Eurobarometer 480: Europeans’ attitudes towards Internet security” estão ao final desta publicação).

Fatos e Dados

A ESET identificou preocupações semelhantes em uma pesquisa realizada nos Estados Unidos (EUA) e no Canadá, na qual a mesma pergunta foi feita, praticamente na mesma data. Nos EUA, 87% dos entrevistados (de um total de 2.500) concordaram que o risco de se tornar uma vítima do cibercrime estava aumentando. Por outro lado, os resultados no Canadá foram apenas um pouco menos pessimistas e 83% dos entrevistados (de um total de 1.000) expressaram opiniões semelhantes.

Essas descobertas devem ser algo preocupante para empresas cujos modelos de negócios dependem da confiança do público na Internet. Também deve ser uma preocupação para os políticos e governos, inclusive para as forças policiais. Os resultados das pesquisas sugerem que os esforços realizados pelos governos na tentativa de combater o cibercrime não geraram muita esperança no público.

Em muitos países, o medo de crimes como o roubo de identidade e as dúvidas sobre a privacidade dos dados são aspectos bastante significativos, inclusive levando algumas pessoas a decidir reduzir e/ou ajustar o uso que dão à tecnologia conectada à Internet. O gráfico a seguir responde a pergunta: a preocupação com problemas de segurança fez com que você alterasse a maneira como usa a Internet de alguma das seguintes formas? (os dados correspondentes à União Europeia foram extraídos do trabalho de campo realizado para a pesquisa EBS480 entre outubro e novembro de 2018, enquanto os dados para os Estados Unidos e Canadá vêm de um estudo realizado pela ESET em julho e agosto de 2018).

O número de pessoas que se limitam a explorar a Internet deve ser uma má notícia para as empresas que tentam iniciar um negócio online. E embora a porcentagem de pessoas que limitam as compras e operações bancárias online seja bastante pequena, esse dado também deve ser uma preocupação para o setor financeiro e de varejo.

Quando a ESET consultou os estadunidenses sobre várias preocupações relacionadas a compras e uso do sistema online, 70% dos entrevistados indicaram que estão preocupados com o uso indevido de informações pessoais fornecidas pela Internet. A União Europeia descobriu um nível menor de preocupação (43%) a nível geral, embora o grau de preocupação fosse diferente se analisássemos as opiniões dentro da UE, uma vez que 32% expressaram isso na Áustria e na Polônia, enquanto na Croácia foi observado uma porcentagem de 50% e na República de Chipre 62%.

Como é possível observar, aproximadamente dois terços dos entrevistados (66%) na América do Norte expressaram preocupação com a segurança dos pagamentos online. Novamente, isso pode ser interpretado como uma alerta aos varejistas online para que intensifiquem suas ações voltadas para a segurança e, dessa forma, demonstrarem que levam sério a segurança nas transações online.

Para ajudar a avaliar os problemas de privacidade relacionados ao uso da Internet, as pesquisas da UE e da ESET perguntaram aos participantes se eles concordavam ou discordavam dessa afirmação: Estou preocupado que os sites não mantenham minhas informações pessoais seguras. Infelizmente, um terço dos entrevistados dos EUA disseram concordar fortemente, comparado a um em cada quatro canadenses. A porcentagem que concordou totalmente ou que tendeu a coincidir foi de 80% nos Estados Unidos, 72% no Canadá e 77% na UE. Esse resultado da UE é superior aos 70% registrados em 2013, o que não é um bom sinal.

A pesquisa também perguntou aos entrevistados se eles concordavam com esta afirmação: Estou preocupado que as autoridades públicas não mantenham seguras minhas informações pessoais online. Infelizmente, mais de três quartos dos entrevistados nos Estados Unidos (76%) tendem a concordar ou concordam fortemente, contra dois terços no Canadá. No entanto, na UE, 68% dos usuários da Internet compartilham esta preocupação, em comparação com 64% em 2013.

Considerando que muitas empresas e agências governamentais se apoiam e confiam na Internet como uma ferramenta substancial para a comunicação e a interação com o público, esses números devem ser preocupantes. Se as pessoas duvidam da capacidade das empresas de proteger a exposição de dados pessoais, é possível que essas empresas achem muito mais difícil do que o esperado obter ganhos líquidos de uma maior transformação digital, como a representada pela Internet das Coisas (IoT), aprendizado de máquina, inteligência artificial, big data, veículos que são acionados automaticamente e tecnologia 5G.

O que podemos dizer?

A cibersergurança lida com a proteção das tecnologias digitais (tecnologias das quais o nosso mundo é bastante dependente) contra criminosos e outras entidades que tentam abusar dessas infraestruturas para seus próprios fins egoístas. O apoio público aos esforços para reduzir o cibercrime é fundamental para os esforços da sociedade em sua tentativa de preservar os benefícios das tecnologias digitais. É por isso que é tão importante saber o que o público pensa sobre o cibercrime e a cibersegurança, a segurança das atividades online e a privacidade dos dados pessoais compartilhados com empresas ou órgãos governamentais.

Então, por que os governos não fazem um melhor trabalho investigando essas coisas? Minha opinião é que o custo desta pesquisa representa um impacto muito alto para muitos políticos, mas acredito que esse impacto não tem uma visão, considerando o que está em jogo, e o que pesquisas como essas que analisamos neste artigo podem nos ensinar.

Talvez os lobistas da indústria devam insistir em mais estudos, já que isso pode revelar informações valiosas para os negócios. Por exemplo, os números atuais sugerem que estratégias de marketing que dependem de pessoas que deixam seus dados online terão que lidar com problemas ainda maiores se a segurança não melhorar. Por outro lado, essas estatísticas podem ser úteis para os Chefes de Segurança da Informação (CISO) e os Chefes de Privacidade (CPO), como eles argumentam o caso de uma maior ênfase na cibersegurança de suas empresas.

Claramente, essas pesquisas mostram que é necessário fazer muito mais para combater o cibercrime. Considerando que, conforme revelado por essas pesquisas, o cibercrime está impedindo o progresso e ameaçando os benefícios prometidos pela próxima onda de transformação digital, ações conjuntas entre órgãos governamentais e entidades corporativas para melhorar essa situação deixam a desejar.

As constatações das pesquisas da UE e da ESET sugerem fortemente que, a menos que as iniciativas de cibsergurança e a dissuasão do cibercrime se tornem uma alta prioridade para agências governamentais e corporações, as taxas de dados e uso indevido de sistemas continuará aumentando, o que minará ainda mais a confiança do público na tecnologia; uma confiança que é vital para o bem-estar econômico do nosso planeta, agora e no futuro.

Recursos

Você pode acessar o "Special Eurobarometer 480: Europeans’ attitudes towards Internet security” como um relatório resumido ou o relatório completo, e acessar o conjunto de dados para uma análise mais detalhada. Confira algumas publicações (em inglês) que abordam vários aspectos da medição e comunicação do impacto do cibercrime: